Escrevo por liberdade e só na hora em que tenho vontade. Há pessoas que dizem que gostaria de viver do produto de sua arte, ganhar dinheiro suficiente por meio dela para não ter de fazer outra coisa. Eu não. Caso tivesse de escrever por motivo de subsistência me sentiria compelida a criar alguma coisa quando meus recursos dessem mostras de minguar. E tudo que não desejo é ser obrigada. Pelo contrário, agradeço o fato de minha sobrevivência vir de outra fonte e assim escrever só nos momentos do meu exclusivo querer.
Também não escrevo por encomenda, salvo raríssimas exceções. De vez em quando uma pessoa ou outra me diz “escreva sobre isso” e, se é uma pessoa da minha estima, eu acabo escrevendo. Eu gosto de servir aos que gosto com prazer.
Certa vez um amigo de infância me pediu para escrever sobre o choque elétrico de uma porquinha. Escrevi. Agora fui instada a escrever sobre um tema que está em voga: vida fitness.
Ao me encontrar com um colega de trabalho num restaurante, ele deu queixas de dores no corpo em virtude de ter iniciado aulas de ginástica e musculação. Minha resposta: “Estou abusada de academia. Vou um dia e falto nove.” Ele propôs: “Escreve sobre isso.” Olha eu, mais uma vez, obedecendo.
Acontece que já tive por quase quatro anos uma vida alimentar e de atividade física absolutamente regradas e cronometradas. Chegava a frequentar a academia duas vezes ao dia, a qualquer hora, aos finais de semana e feriados. Eliminei da dieta o açúcar, os produtos industrializados e todas aquelas guloseimas que nos dão um prazer quase orgástico quando adentram nossa boca. Emagreci, ganhei músculos, a barriga diminuiu bastante, embora nunca tenha zerado. Tive uma vida fitness que foi eterna enquanto durou, mas agora estou noutra “vibe”, como dizem por aí.
Confesso que me cansei do ambiente de academia e cansei ainda mais dos movimentos repetidos. Odeio a repetição. Cheguei a me questionar em alguns momentos em que descia até o chão com as pernas arreganhadas e a barra de ferro nos ombros: “Oh my god, o que estou fazendo aqui?” Quer saber? Desisto. A desistência, como diz Clarice Lispector, é uma espécie de revelação. Então, revelo-me.
Quanto ao aspecto da nutrição, sem muitos dilemas. Não tenho nenhuma tara por comida e prefiro alimentos salgados a doces. Não sou maluca por chocolate ou sobremesas em geral. Acho chique comer pouco e adoro o arroz com feijão de todo dia. Apenas o cafezinho precisa conter açúcar, porque acho mais gostoso e me dou o direito a esse luxo. Eu mereço.
A desistência a uma “vida fitness” pode durar pouco, como pode durar o resto dos meus dias. Mas sou vaidosa por natureza. Tenho meus cuidados para não sair totalmente do prumo.
Lembro-me da cantora Marília Mendonça que, num vídeo gravado dentro do avião, poucas horas antes da queda que veio culminar em sua morte, comia uma maçã e outros alimentos integrais, e lamentava-se chegar a Minas Gerais e não poder se deliciar com as saborosas comidas típicas da região, uma vez que precisava seguir o script da dieta.
Bem, se passasse pela cabeça que aquela seria sua última refeição teria escolhido comer o quê? Não saberemos. Mas creio que não comeria uma maçã.
Em hipótese alguma faço apologia aos excessos ou para que as pessoas liguem o “foda-se” e não façam dietas ou exercícios físicos. Longe de mim. É importante se cuidar. Mas também é importante se dar folga e descanso de certas coisas. Eu estou me dando um tempo para ficar de pernas para o ar. Quanto tempo? Não sei.
Só que não vou mentir. Ando meio preguiçosa e até quis me justificar pelo lugar onde moro atualmente: “Ah mãe, depois que cheguei na Bahia tô meio assim molenga”. Minha mãe, que nada deixa passar: “Você já estava assim em Brasília.”
Quer saber? É isso mesmo. Estou é com preguiça. Cheia de manhas e artimanhas, como me disse um amigo. Não vou ficar justificando o injustificável. Vou é resolver esse blá blá blá com uma frase da minha amiga Clarice, que me entende muito bem:
“De agora em diante eu gostaria de me defender assim: é porque eu quero. E que isso baste.”
Cansei de vida fitness. Quero vida sem adjetivações.