Não sei que tipo de fascínio uma mulher que escreve, e escreve bem, exerce sobre o imaginário dos homens. Temo que alguns leitores estejam confundindo o autor (que sou eu) com a obra (que é também minha) e comecem a atribuir a mim qualidades e defeitos de meus textos como se fossem características de minha própria pessoa.
Não nego possuir qualidades e defeitos. Estes, então, tenho aos montes. Mas não quero ser confundida por uma questão de respeito.
Quando escrevo estou me revelando, mas não se enganem de supor que eu esteja me desnudando totalmente. Eu só mostro é a pontinha do calcanhar como uma mulher da belle époque, pois minha intimidade é guardada a setenta e sete chaves.
Um de meus leitores me mandou e-mail dizendo-me que quer me conhecer pessoalmente porque tenho um jeito de escrever que insinua e provoca e, portanto, imagina que eu seja tão insinuante e provocativa quanto o que escrevo. Ainda acrescentou: “Quando você põe uma vírgula sigo sem respirar e quando você põe um ponto final fico à espera… “
À espera de que, meu Deus?
Como fico diante de uma revelação dessa? Como dizer a ele para não esperar nada de mim? Como afastá-lo de suas ilusões sem parecer deselegante e sem distanciá-lo?
Olha leitor, não pense você que escrevo com ares de sedução como bem insinua. Se a intenção fosse mesmo provocar, eu escreveria com as pernas que abrem e não com as mãos que batem. Peço que não confunda as coisas e nem seja metonímico a ponto de se embaraçar sobre quem de fato sou. E, por favor, esquive-se de me fazer acreditar que sou as palavras que digo. Elas dizem muito pouco. Se eu começar a ser reduzida a elas, sou capaz de parar de escrever.
Em outro e-mail, um leitor disse-me: “Ana você deixa um clima de suspensão no ar e eu fico doido pelo seu final, sua conclusão, seu clímax.”
Sinto muito lhe dizer, querido leitor, mas se você tem ficado doido para que eu me conclua, provavelmente vai parar num hospício. Só tenho controle é no momento do começo. À medida que vou indo, entrando por becos e labirintos, a última coisa que vislumbro é chegar ao fim. Mas, desista de mim não. Vamos percorrer caminhos desconhecidos. Eu te levarei a lugares que nem sei. “Perder-se também é caminho”, como diz uma amiga. Que tal se perder comigo?
Com relação a uma mensagem que recebi de outro leitor, fiquei realmente em dúvida se era convite, cantada ou espécie de devaneio.
Ele comenta que quando conheceu os meus textos começou a ler, um por um, até que chegou na resenha sobre Dom Casmurro, de Machado de Assis, e ficou hipnotizado.
Então, me mandou isso: “Quando virá a São Paulo? Que tal a gente tomar uns drinks enquanto você lê Machado de Assis?”
Vai ver que ele está me confundindo com a própria Capitu.
Caro leitor, o que tenho a lhe dizer daria para um capítulo, mas não vou me delongar. Talvez a única coisa em comum que tenho com Capitolina sejam “seus olhos de ressaca”. Quanto ao mais, não vejo semelhanças.
Como ela foi capaz de se ligar a um homem como Bentinho que só nos legou as impressões equivocadas e cegas que tivera dela? Eu é que não admito definições. Não me reduza à imagem que tem da Capitu. Tome seus drinks sozinho, pois sou matéria para mais de um volume literário e você deve ser como os Bentinhos da vida que são incapazes de perceber isso e acham que um “drink” resolve tudo.
Tenho um leitor que costumava comentar meus textos e, de repente, sumiu. Dessa vez, eu é que fui até ele: “Você parou de me ler?”
“Você é muito complexa.”
Eu disse: “Sou tão simples quanto a comida que se põe à mesa.”
Ele: “A mesa do Pobre Juan? Do Oliver? Do Gero? Do Taypá?” E começou a elencar os restaurantes mais caros e sofisticados de Brasília.
Acho que entendi o que ele quis dizer.
Não se engane, leitor. Eu sou para a mesa de todos esses restaurantes sim, mas também para o “Fogão à lenha”, “Arroz, feijão e bife”, “Marmitinha do Zé”, “Comidinha Caseira”.
Amados leitores, eu sou e escrevo simples, nu e cru. Vocês é que estão complicando as coisas.