Sempre gostei dos amores impossíveis. E eu não saberei explicar a quem me perguntar, ou a mim, a razão de tal preferência, nem mesmo se se trata de uma escolha.
Razão talvez não seja o melhor termo a utilizar quando não temos ideia do que nos conduz ou não nos conduz a algo. Desejos inconscientes de coisas irrealizáveis para que o desejo continue sendo alimentado? Conjecturas. E nada ouso afirmar.
Pode ser anseio de liberdade, vontade de preservar algo de si longe do toque do outro. Tantas coisas ou nenhuma delas.
Ando teorizando, tateando meus escuros, querendo saber de mim o que nem eu mesma posso me revelar. E por que querer saber o porquê e não me contentar em ir vivendo o que for sendo e aparecendo?
Sinto necessidade de cultivar o amor, de senti-lo e, ainda quando inventado, unilateral, ele me joga numa espécie de prazer que quer e não quer possuir o objeto por inteiro. Quero, não quero. Vou, não vou. É, não é.
Tantas vezes perdi o interesse por quem disse me amar, por quem deu provas do desejo de minha presença, do meu corpo, de mim, enfim… por quem viajou milhas ao meu encontro.
Porque sou eu quem devo estar perdida de amor. O que o outro sente é matéria intransferível, impenetrável, pertence-o e nada me acrescenta. Ao passo que se o amor é meu, tudo é meu, eu sou meu.
Quando dei por mim estava em fuga. Uma desculpa aqui, outra ali. Não, não posso. Careço olhar antes de ser olhada, desejar antes de ser desejada, amar antes de ser amada. É como se não consentisse ser alvo de alguém antes que esse alguém tenha sido previamente notado, ansiado, atraído. E mesmo quando há o encontro de vontades, elas não podem se fundir completamente.
Há sempre algo de intocável, intransponível, irrealizável e impossível que merece ser preservado.
Eu sei no mais fundo de mim que o amor não se faz a dois.