Adoro receber pessoas em casa: nem sempre e não com tanta regularidade. Mas quando recebo a entrega é total, de coração quente e peito aberto. E prefiro que os encontros sejam combinados, pois não gosto de visitas inesperadas por um único motivo: preciso preparar a mim e ao ambiente, além de me imiscuir de um estado interno de expectativa e de espera para a abertura aos outros. É uma espécie de ritual.
E nesse ritual não pode faltar a comida. Tenho essa necessidade de nutrir quem vem até mim como se não houvesse separação entre afeto e alimento. Como se o desejo mais genuinamente humano permanecesse o mesmo de quando nascemos aos gritos até sermos acalmados junto ao seio da mãe.
Quando alguém se anuncia importa-me saber seu gosto gastronômico para que o providencie. A fome que faz uma pessoa se aproximar de outra geralmente não é a de pão, bem sei. E é por saber que entre nós há um espaço impreenchível, um lugar intocável, lacunoso, uma fome que não se sacia, que devo tentar amenizá-la com a temporária satisfação fornecida pelo alimento.
Talvez “eu te amo” não expresse tanto amor como “eu cozinhei o seu prato preferido” ou “comprei todos os tipos de queijo do seu agrado”, “fui em todos os mercados da cidade atrás do vinho de que mais gosta”, “passei horas na fila do açougue para trazer a melhor carne do churrasco que preparei para você”.
Nutrir é ato de amor por excelência. Amo, portanto levo a hóstia à boca do outro. A hóstia preparada não com o trigo de minha preferência, mas com o sabor que mais apraz o paladar de quem a recebe.