A verdade é que não consigo ou mesmo não tenho intenção de acompanhar o ritmo acelerado de minha mãe. De quando acorda à hora de dormir, ela arruma mil e uma tarefas, resolve pendências, inventa o que fazer e ainda lhe sobra disposição para academia, caminhada e mais coisas que lhe ocupam o dia que, se em outros lugares tem vinte e quatro horas, em Coribe totaliza quarenta e oito.
O que gosto de fazer quando estou lá é ver o tempo não passar. Se o tédio ameaça essa falta do que fazer, induzindo-me a imaginar que os minutos poderiam passar mais depressa, penso: mas para quê? Leio, tomo café, converso um pouco, dou risada, vejo vídeos. Às onze, o almoço está pronto. Leio, passeio pela cidade de ruas e pessoas iguais, descanso; descanso mais um pouco; penso em nada, penso em tudo. Deito-me, olho para o teto, levanto-me. Em ritmo lento vou acontecendo.
A vida me aquietou, me amansou a ponto de às vezes minha mãe dizer: “Você está é rezada. Vou levar você até Seu Matias para te benzer.” Não sou boba de recusar e sigo com ela até o benzedor crente de que ele retirará os males que pesam o meu corpo e que me fazem cultivar certa preguiça. Esta, se já não fosse pecado capital, boa coisa não seria; bem sei.
“Quem está colocando esse olho gordo em cima de você?”, pergunta Seu Matias após terminar o ritual.
Realmente, não sei.
Enquanto conversamos sobre a vida, eis que aparece uma pessoa à porta. Ao perceber nossa presença intimida-se. Seu Matias a olha; quieto, pensativo, não faz a menor questão de mandá-la entrar. Ela dá meia volta sem dizer palavra.
Diz-nos que aquela mulher vai à sua procura todo o tempo. Para quê? Pois que ele ainda não aprendeu a reza para curar feiura. Caímos na gargalhada, pois por essa jamais esperávamos.
Ao nos despedirmos, Seu Matias pede que eu volte numa sexta-feira a fim de fechar meu corpo para que nada de ruim me atinja. Esse pedido muito me alegra, é claro! É sinal de que o meu mal é curável.
E também sou muito vaidosa para admitir a feiura. Caso fosse por ela acometida, moveria céus e terra para livrar-me. Ou imitaria essa mulher que planta os pés na casa de Seu Matias. Mas que ele teria de dar jeito, teria.
Ah se teria!